Dia 2: Roncesvalles a Espinal
Saída de Roncesvalles
Dormi muito bem, porém as dores, principalmente no posterior da coxa esquerda, indicavam que seria um dia difícil. Até ali, imaginava que a dor passaria com o tempo, mas ela me acompanhou (e piorou muito) durante toda a viagem.
Definitivamente, fui “quebrado” pela travessias dos Pririneus. Sabia que seria difícil, porém foi bem mais complicado do que esperava.
A famosa placa de 790 Km
Fui um dos últimos a sair do albergue, por volta das 8:00, e logo me deparo com uma das fotos mais icônicas do caminho Francês: a famosa placa indicando Santiago de Compostela a 790 km.
Não perdi a oportunidade e registrei o momento, mesmo sabendo que não iria caminhar a distância total. Porém, nada iria me impedir de registar este momento. Eu caminharia uma boa parte do trajeto e era isso que importava.
Os bosques de Roncesvalles
Trecho bem curto, com somente 3 km até Burgette e certamente, um dos mais bonitos. Parte é feita ao lado da carretera, mas nem de longe foi um problema. O caminho atravessa um bosque muito verde e completamente plano, que somando à temperatura de 8ºC e tornou esta caminhada muito agradável.
A batalha de Roncesvalles
Nestes bosques, em agosto de 778 aconteceu a famosa Batalha de Roncesvalles, quando o exército do Rei Francês Carlos Magno foi atacado por bascos e outros povos locais.
A retaguarda do exército franco foi dizimada e entre os mortos estava o lendário Roland, um dos doze paladinos de Carlos Magno.
Conforme a lenda, sua espada – a famosa “Durandal” – foi perdida em batalha e até hoje pode estar por aqui.
Grupo começa a se formar
Logo na entrada de Burgette parei no café Goxona para o desayuno (café da manhã) e tirei o atraso com ovos, suco de laranja e café.
Lá reencontrei Kathy, a canadense que conheci na descida para Roncesvalles e que formaria o nosso grupo dali para frente.
A Burgette de Hemingway
Burguete, ou Auritz em basco, é autêntica vila dos Pireneus, conhecida por sua atmosfera tranquila, ruas de pedra e casas brancas com telhados inclinados, típicas da arquitetura montanhosa da região.
Historicamente, Burguete foi um ponto de passagem para peregrinos desde a Idade Média, oferecendo descanso após a travessia dos Pireneus, e ganhou fama literária por ser mencionada em “O Sol Também se Levanta”, de Ernest Hemingway, que se inspirou em suas visitas à área.
Botas ainda molhadas
As botas ainda estavam molhadas do dia anterior e por isso preferi caminhar de papetes. A umidade aumenta o atrito entre a pele e o tecido das meias, favorecendo a formação das temidas bolhas.
A ideia parecia boa, porém aquele trecho do caminho era de um cascalho fino e a cada passo, as pedrinhas “entram” entre a sadália e os pés, incomodando bastante. Depois d somente 3 ou 4 kilômetros caminhados, parei para tentar secar mais as botas na pitoresca praça em frente à Igreja de San Nicolás de Bari.
Mais chuva pela frente
Enquanto eperava, consultei a previsão do tempo e, apesar do ceu aberto, o serviço de meteorologia indicava chuva forte para dali a pouco.
O dia anterior esgotou minha cota de andar sob chuva e resolvi caminhar até que a hora que começasse a cair água.
Decisão tomada! Onde estivesse, iria encontrar um albergue e alí passaria a noite, e com este pensamente, retomei minha caminhada.
Chegada a Espinal
Dia 4 – Espinal a Pamplona
Meu terceiro dia amanheceu com chuva e frio, e para completar, a dor no posterior da coxa esquerda parecia que tinha piorado durante a noite.
Seguindo o cronograma normal, neste tercceiro dia seguiria mais 15 km até Zubiri ou um pouco mais a frente, até Larrasoana. Porém, ao considerar as circunstâncias e a agenda apertada, preferi pegar um ônibus.
Naquele sábado 23 de setembro, Pamplona celebrava o festival de San Fermín Txikito (ou “Pequeno San Fermín”). Esta festa é uma versão menor do mundialmente famoso festival de San Firmin, que acontece em julho e é conhecido pela arriscada corrida dos touros. Zubiri e Larrasona ficarão para um próximo Caminho, mas não perderia esta festa!
Enquanto aguardava o ônibus para Pamplona, chegaram ao ponto Kathy (canadense) e Patricia com sua irmã (duas americanas com quem dividi a mesa no jantar em Roncesvelles). Realmente, não fui o único a decidir seguir de ônibus.
Saímos de Espinal e, em menos de uma hora, finalmente chegava a uma das jóias do caminho: a histórica Pamplona!
Finalmente, Pamplona!
Para quem gosta de história, não tem como descrever a emoção de chegar a uma cidade fundada pelos romanos no século I a.C.! Seria impossível, em um post como este, comentar o significado histórico desta cidade, mas vou tentar:
Pamplona se transformou em cidade no ano de 74 a.C., quando o general romano Pompeu estabeleceu um acampamento militar, dando origem a Pompelo. Após a queda de Roma (470 d.C.), a cidade foi ocupada por visigodos e, depois, pelos muçulmanos até se tornar independente (900 d.C.), agora como Reino de Pamplona. Logo depois, a cidade alcança seu auge, como o mais poderoso reino cristão na penísula ibérica. Em 1512, foi conquistada por Fernando, o Católico, e passa a integrar a Espanha, como conhecemos hoje.
A cidade também foi palco de muitas guerras e disputas, entre elas a ocupação por Napoleão (1808-1813) e Guerra Civil Espanhola (1936-1939).