Santiago 2023 (2)

Dia 2: Roncesvalles a Espinal

Saída de Roncesvalles

Saída de Roncesvalles
Me peparando para sair de Roncesvalles

Dormi muito bem, porém as dores, principalmente no posterior da coxa esquerda, indicavam que seria um dia difícil. Até ali, imaginava que a dor passaria com o tempo, mas ela me acompanhou (e piorou muito) durante toda a viagem.

Definitivamente, fui “quebrado” pela travessias dos Pririneus. Sabia que seria difícil, porém foi bem mais complicado do que esperava.

A famosa placa de 790 Km

Santiago a 790 Km
A icônica placa “Santiago de Compostela 790 Km”

Fui um dos últimos a sair do albergue, por volta das 8:00, e logo me deparo com uma das fotos mais icônicas do caminho Francês: a famosa placa indicando Santiago de Compostela a 790 km.

Não perdi a oportunidade e registrei o momento, mesmo sabendo que não iria caminhar a distância total. Porém, nada iria me impedir de registar este momento. Eu caminharia uma boa parte do trajeto e era isso que importava.

Os bosques de Roncesvalles

Uma das regiões mais bonitas do caminho
Um dos trecho mais bonitos do caminho

Trecho bem curto, com somente 3 km até Burgette e certamente, um dos mais bonitos. Parte é feita ao lado da carretera, mas nem de longe foi um problema. O caminho atravessa um bosque muito verde e completamente plano, que somando à temperatura de 8ºC e tornou esta caminhada muito agradável.

A batalha de Roncesvalles

Um pouco de frio não faz mal a ninguém
Um pouco de frio não faz mal a ninguém

Nestes bosques, em agosto de 778 aconteceu a famosa Batalha de Roncesvalles, quando o exército do Rei Francês Carlos Magno foi atacado por bascos e outros povos locais.

A retaguarda do exército franco foi dizimada e entre os mortos estava o lendário Roland, um dos doze paladinos de Carlos Magno.

Conforme a lenda, sua espada – a famosa “Durandal” – foi perdida em batalha e até hoje pode estar por aqui.

Grupo começa a se formar

Café da manhã com Katyhy em Burgette
Café da manhã com Katyhy em Burgette

Logo na entrada de Burgette parei no café Goxona para o desayuno (café da manhã) e tirei o atraso com ovos, suco de laranja e café.

Lá reencontrei Kathy, a canadense que conheci na descida para Roncesvalles e que formaria o nosso grupo dali para frente.

A Burgette de Hemingway

A Burgette de Hemingway
A Burgette de Hemingway

Burguete, ou Auritz em basco, é autêntica vila dos Pireneus, conhecida por sua atmosfera tranquila, ruas de pedra e casas brancas com telhados inclinados, típicas da arquitetura montanhosa da região.

Historicamente, Burguete foi um ponto de passagem para peregrinos desde a Idade Média, oferecendo descanso após a travessia dos Pireneus, e ganhou fama literária por ser mencionada em “O Sol Também se Levanta”, de Ernest Hemingway, que se inspirou em suas visitas à área.

Botas ainda molhadas

As botas ainda estavam molhadas do dia anterior e por isso preferi caminhar de papetes. A umidade aumenta o atrito entre a pele e o tecido das meias, favorecendo a formação das temidas bolhas.

A ideia parecia boa, porém aquele trecho do caminho era de um cascalho fino e a cada passo, as pedrinhas “entram” entre a sadália e os pés, incomodando bastante. Depois d somente 3 ou 4 kilômetros caminhados, parei para tentar secar mais as botas na pitoresca praça em frente à Igreja de San Nicolás de Bari.

Secando as botas em Burgette
Secando as botas em Burgette

Mais chuva pela frente

Enquanto eperava, consultei a previsão do tempo e, apesar do ceu aberto, o serviço de meteorologia indicava chuva forte para dali a pouco.

Entre Burguette e Espinal
Entre Burguette e Espinal

O dia anterior esgotou minha cota de andar sob chuva e resolvi caminhar até que a hora que começasse a cair água.

Decisão tomada! Onde estivesse, iria encontrar um albergue e alí passaria a noite, e com este pensamente, retomei minha caminhada.

Chegada a Espinal

Chegando em Espinal
Chegando em Espinal
Albergue Haizea em Espinal
Albergue em Espinal

Dia 4 – Espinal a Pamplona

Meu terceiro dia amanheceu com chuva e frio, e para completar, a dor no posterior da coxa esquerda parecia que tinha piorado durante a noite.

Seguindo o cronograma normal, neste tercceiro dia seguiria mais 15 km até Zubiri ou um pouco mais a frente, até Larrasoana. Porém, ao considerar as circunstâncias e a agenda apertada, preferi pegar um ônibus.

Naquele sábado 23 de setembro, Pamplona celebrava o festival de San Fermín Txikito (ou “Pequeno San Fermín”). Esta festa é uma versão menor do mundialmente famoso festival de San Firmin, que acontece em julho e é conhecido pela arriscada corrida dos touros. Zubiri e Larrasona ficarão para um próximo Caminho, mas não perderia esta festa!

Enquanto aguardava o ônibus para Pamplona, chegaram ao ponto Kathy (canadense) e Patricia com sua irmã (duas americanas com quem dividi a mesa no jantar em Roncesvelles). Realmente, não fui o único a decidir seguir de ônibus.

Saímos de Espinal e, em menos de uma hora, finalmente chegava a uma das jóias do caminho: a histórica Pamplona!

Finalmente, Pamplona!

Para quem gosta de história, não tem como descrever a emoção de chegar a uma cidade fundada pelos romanos no século I a.C.! Seria impossível, em um post como este, comentar o significado histórico desta cidade, mas vou tentar:

Pamplona se transformou em cidade no ano de 74 a.C., quando o general romano Pompeu estabeleceu um acampamento militar, dando origem a Pompelo. Após a queda de Roma (470 d.C.), a cidade foi ocupada por visigodos e, depois, pelos muçulmanos até se tornar independente (900 d.C.), agora como Reino de Pamplona. Logo depois, a cidade alcança seu auge, como o mais poderoso reino cristão na penísula ibérica. Em 1512, foi conquistada por Fernando, o Católico, e passa a integrar a Espanha, como conhecemos hoje.

A cidade também foi palco de muitas guerras e disputas, entre elas a ocupação por Napoleão (1808-1813) e Guerra Civil Espanhola (1936-1939).