Diário de minha peregrinação a Santiago de Compostela, em setembro/23, pelo Caminho Francês, com duração de 21 dias.
Infelizmente, não tinha os 30 e poucos dias necessários para vencer toda a distância, e por isso combinei caminhada (300km), bike (180 km) e trem (320 km).
Neste diário relembro minha aventura, com a certeza que ainda voltarei para completar esta incrível jornada!
Dia 1: Saint Jean Pie de Port
Chegada a SJPP
Cheguei a Madri as 05:00 da manhã e logo peguei um táxi para estação de Atocha. Havia comprado passagem de trem (Renfe) para Pamplona, saindo às 07:00.
A agenda estava bem apertada, considerando que o último ônibus de Pamplona para SJPP saia às 11:00.
Em caso de problemas na logística, já tinha estudado um “plano B” para cada um dos trechos ate SJPP. Logo, estava bem tranquilo com relação ao deslocamento.
O pior que poderia acontecer, seria não chegar a Saint Jean com tempo suficiente para conhecer e a cidade.
Naquele momento estava ansioso para ver tudo aquilo que, até então, só conhecia por leitura e vídeos.
Oficina dos Peregrinos
Chegando a SJPP, fui direto à Oficina dos Peregrinos buscar a credencial e a vieira, que iriam me acompanhar nesta jornada.
Chegada ao albergue
Cumprida esta tarefa, procurei o albergue Gîte Le Chemin vers l’Etoile, onde já tinha reserva. Deixei minhas coisas e, finalmente, saí para conhecer a cidade.
Conhecendo SJPP
Primeira noite em albergue
Na minha primeira noite como peregrino em um albergue, dividi o quarto (sem janelas) com 2 alemães, 1 americano e 4 coreanas.
Logo de cara, recebi a cama de cima do beliche. Fiquei um pouco preocupado por não estar acostumado, mas logo peguei o jeito.
Demorei um pouco para dormir, provavelmente pela ansiedade. Porem, acordei às 5:00 super bem descansado e muito animado para começar logo!
Dia 2: SJPP a Roncesvalles
Primeiros passos no Caminho
Depois de um café da manhã improvisado na rua e um pouco de alongamento, exatamente às 6:00 iniciava minha peregrinação.
Coração a mil com a expectativa da aventura pela frente!
Sem luz no escuro
Logo na saída, o primeiro perrengue: acabou a energia da minha pequena lanterna de mão!
Na empolgação, esqueci de carregar a bateria e a pobre não durou nem 500 metros de caminhada. Quem poderia imaginar?
O jeito foi seguir de perto outros peregrinos mais prevenidos.
Le Refuge Orisson
Depois de 8 km de “morro acima” e 2:40 hr de caminhada, finalmente, cheguei no famoso albergue Orisson – parada obrigatória nesta primeira etapa.
Trecho de subida bem acentuada, com 650 metros de ascensão acumulados até agora. Ainda teria mais outros 620 metros até Collado de Lepoeder, o ponto mais alto deste trecho.
Aqui tomei o meu “mais do que merecido” café da manhã.
Começou vento e frio
A saída de Orisson foi marcada pelo início de um vento frio, que se intensificava cada vez mais.
Para meu espanto, pois o dia começou lindo e não havia previsão desta virada do tempo. Os Pirineus estavam para mostrar sua cara, como a me dizer “-Aqui o buraco é mais embaixo!”.
Começa a chuva
Depois de muito “ensaiar”, finalmente e chuva chegou. No início estava fraquinha e o corta-vento impermeável deu conta do recado.
Ao poucos os pingos aumentaram e, finalmente, inaugurei a minha capa de chuva no Caminho de Santiago. Esta foi a única vez que a utilizei em toda a viagem!
Situação piora!
O vento forte, combinado com a chuva e o desgaste da subida levaram o desconforto a níveis que não seriam superados nesta viagem.
Foi um desafio manter o rosto protegido das gotas que me atingiam a 1.000 km/hr (ou quase isso!).
Além disso, esqueci de tirar as luvas quando começou a chover e não seria agora que iria parar para pegá-las. A ventania não me deixaria vestir a capa de volta.
Chegada a Roncesvalles
Finalmente, chegamos! Depois de quase 9 horas, finalmente chegava ao destino do dia.
Posso dizer, sem medo de errar ou parcer dramático, que os Pirineus me quebraram nesta travessia.
As subidas e descidas fortes foram complicadas, sem dúvida. Mas o clima fez direitinho seu trabalho de dar uma lição aos incautos.
Na descida, conheci Kathy (Canadá) e Joshep (Coreia) que se tornariam meus companheiros nesta primeira etapa da viagem.
Primeiro jantar como peregrino
Certas coisas marcam uma viagem, e sem dúvida, meu primeiro jantar como Peregrino em Roncesvalles foi um destes momentos.
Finalmente estava vivendo a tão comentada refeição entre peregrinos, onde estranhos do mundo todo se conhecem e compartilham expectativas sobre o caminho.
E neste caso não foi diferente. Na mesa, um brasileiro (eu), 1 Italiano, 1 alemã, 2 canadenses, 2 americanas e 2 coreanos (entre eles, Joseph Kim, que se tornaria meu grande companheiro na primeira etapa da viagem).
Missa do Peregrino em Roncesvalles
Após o jantar, fui assistir à Missa dos Peregrinos, que foi conduzida em latim com cantos gregorianos, exatamente como era realizada no século XII.